Valdir Oliveira, Diretor Superintendente do Sebrae/DF
À frente da instituição mais importante para apoio, orientação e capacitação empreendedora do DF, Valdir Oliveira falou ao JNB sobre perfil, competências, tendências e oportunidades para quem deseja empreender com sucesso.

JNB - O que é um empreendedor para o SEBRAE?
VO - Um empreendedor é um perfil, você não precisa ser dono de negócio para ser empreendedor. Empreendedor é aquele que busca novidades, busca iniciativas. É quem avança. Quem gosta desse desafio, desse tom de ousadia, tem o perfil empreendedor. Esse perfil em negócios é importante porque faz o negócio avançar.
Qual o maior desafio para o empreendedor hoje?
A gente vem saindo de uma crise muito forte, em que a gente tem um volume de desempregados muito grande que saem do mercado formal e precisam buscar sobrevivência, por isso que a informalidade cresce muito. Hoje nós temos muitas pessoas que desenvolvem um tipo de atividade produtiva, mas que não se formalizaram, então tem dificuldades nesse tipo de gestão. A maior dificuldade é gerir o negócio, e é nisso que entramos para ajudar.
Segundo a pesquisa GEM, são mais de 50 milhões de empreendedores no Brasil. Por outro lado, os números do desemprego também são muito altos. Qual é sua visão da relação entre crescimento do empreendedorismo e o desemprego?
Existe o empreendedorismo por vocação, que é aquele que você se identifica com algo que gosta, mas num momento de crise, há o empreendedorismo por necessidade, onde a pessoa está procurando por uma oportunidade por precisar disso para sobreviver. Temos números bons, como o crescimento do empreendedorismo entre as mulheres, que estão entrando muito mais no mercado, ampliando seus negócios e melhorando a sua renda. Acreditamos que a crise está dando sinais de arrefecimento e a economia está voltando a respirar. Ano passado, tivemos um número recorde de atendimentos. Foram mais de 78 mil CNPJs atendidos, algo que nunca aconteceu antes.
O DIFAL era um dos principais entraves para o crescimento das micro e pequenas empresas?
Sim. O DIFAL é um diferencial da alíquota do ICMS quando você compra de fora. Brasília produz muito pouco e as pessoas compram muitos produtos vindos de fora. No momento de crise acabou ficando caro demais para os nossos empresários porque não tinham como repassar para o preço do produto, pois se aumentar tanto o custo, ele não vende mais. O Governador prometeu em campanha que acabaria com o DIFAL e de fato cumpriu com sua promessa. Hoje a micro e pequena empresa pode respirar, porque esse imposto prejudicava principalmente ela.
Hoje, temos a figura da pessoa jurídica dentro das empresas e aqueles, como os motoristas de aplicativos e entregadores de encomendas, que não são funcionários da empresa e nem são empreendedores.
O que o SEBRAE pode fazer para ajudar esses profissionais?
Nós precisamos avançar muito nos canais digitais, porque hoje o relacionamento é digital. Não há como crescer e avançar como é preciso se não se avançar nesse canal para ganhar escala. Se a gente pensar que vai conseguir atuar da forma que atuava há 20 anos atrás, vamos estar perdidos. A gente tem acreditado muito na inovação. Criamos um laboratório de inovação que recebeu mais de 10 mil pessoas somente ano passado, com um ambiente que favorece a inovação, a criatividade, e que integra esses empreendedores.
No caso específico do Uber, existe algum trabalho do SEBRAE de orientação?
Nós fizemos um movimento de formalização deles como microempreendedores individuais, fizemos fortes parcerias, e hoje esses modelos alternativos não são só Uber, existem diversos aplicativos trabalhando em cima disso. A gente tem se esforçado para compreender esse tipo de autoemprego e poder ajudar dentro dessa forma. A principal ajuda que o SEBRAE dá para quem tem esse tipo de atividade é o básico, é ensinar a separar o dinheiro dele do dinheiro que é da empresa, porque quando ele mistura, ele quebra.
Uma ação importante que marcou a atuação do SEBRAE do ano passado para cá foi a criação das Salas dos Empreendedores. Quais os resultados práticos dessas salas?
É uma aproximação fantástica, porque é a forma da gente chegar na comunidade. O SEBRAE não vive sem o governo, porque o governo atua estando perto da sociedade, e nós somos uma ferramenta. Quando nos aproximamos do GDF, estamos nos disponibilizando para que nossos serviços sejam utilizados e para que utilizemos essa proximidade com a comunidade. A sala do empreendedor é isso. As Administrações se aproximam e entendem as necessidades daquela comunidade. Os resultados são fantásticos, a gente consegue fazer muitos atendimentos, ampliamos ainda mais com o programa Cidade Empreendedora, estamos levando o empreendedorismo para as administrações e estamos tendo sucesso nesses programas.
Vocês pensam em montar uma universidade corporativa para formar empreendedores?
Nesse caso seria com o SEBRAE Nacional, que está à frente da discussão, não é com o SEBRAE/DF. Aqui a gente atua com o Programa Nacional de Educação Empreendedora, em que levamos para as escolas e para as universidades o tema empreendedorismo. Nossa intenção dentro de uma metodologia que a gente tem, é que essa sensibilidade seja despertada. A formação dos nossos jovens vai ser fundamental para que eles possam encontrar na iniciativa privada e no empreendedorismo o sustento, porque o Estado já está esgotado e não consegue abraçar como abraçava antes a profissionalização dos nossos moradores.
"Quase metade dos nossos jovens estão desempregados, e isso é muito preocupante."
O que o SEBRAE oferece aos jovens que esperam por oportunidades no mercado?
Hoje, nós temos uma preocupação muito grande com esses jovens, pois o índice de desemprego dos jovens de 16 a 24 anos ultrapassa os 40%, o que significa que quase metade dos nossos jovens estão desempregados, e isso é muito preocupante. Nós precisamos atuar viabilizando o primeiro emprego, isso é muito importante. O esforço que temos feito é para estimular a inovação dos jovens que estão saindo das universidades com vocações e vontades fora dos sistemas tradicionais do mercado.
Qual a tendência de segmento dos próximos anos?
Nem toda pessoa foi feita para todo negócio, e nem todo negócio foi feito para toda pessoa. A primeira coisa é você se identificar enquanto vocação e a segunda é conhecer o mercado, ou seja, seus concorrentes, clientes, fornecedores e futuros funcionários. O SEBRAE entra nessa segunda parte, a gente te capacita para que você possa ingressar no seu negócio da melhor forma.
A grande dificuldade dos empreendedores é a burocracia. O que tem sido feito para tornar essa relação mais leve?
O GDF tem avançado muito na desburocratização para facilitar a abertura de empresas. O governo ajudou muito com a Lei da Liberdade Econômica, para aquelas atuações que consideramos de baixo risco. O ambiente empreendedor tem melhorado muito.
Assista à entrevista completa com Valdir Oliveira, Diretor Superintendente do SEBRAE/DF: