Jamal Bittar, presidente da Federação das Indústrias do Distrito Federal - FIBRA
Presidente da FIBRA falou com exclusividade ao Jornal Nosso Bairro sobre as perspectivas para o setor da indústria na Saída Norte do Distrito Federal.

JNB - A participação da indústria no PIB do DF foi de 4,7% em 2016, enquanto o setor de serviços respondeu por 94,9%. Por que tamanha disparidade?
JB - Essa disparidade se deve à ausência de políticas capazes de viabilizar a diversificação da economia brasiliense. Criou-se o mito de que, na condição de cidade administrativa, Brasília não deveria ser industrializada, mesmo estando no centro do País. Essa falta de visão deixou de lado por décadas a construção e a execução de políticas sólidas de desenvolvimento para o Distrito Federal.
Quando falamos do PIB do setor de serviços, quase metade é da administração pública. Essa dependência é ruim para a nossa cidade, até porque a redução da máquina pública é uma tendência. Então, temos uma economia muito frágil, e isso só vai mudar se diversificarmos nossa matriz econômica. Fomentar o setor industrial é o caminho, porque a indústria cria empregos qualificados, estimula o conhecimento e a inovação, movimenta as outras atividades econômicas e beneficia a sociedade como um todo.
Qual avaliação o senhor faz sobre as perspectivas de desenvolvimento do setor industrial no governo Ibaneis?
O governador tem colocado o desenvolvimento econômico como prioridade e, assim como nós, se mostra preocupado com o alto desemprego na cidade, que está em quase 20%. O emprego gera dignidade, renda e justiça social. Ibaneis recrutou pessoas bem preparadas para esse projeto de alavancar a economia do DF e está se movimentando com proatividade, apesar das dificuldades. Temos sido ouvidos pelo Executivo, assim como pelo Legislativo, em questões importantes para o setor, então nossas perspectivas são positivas.
Como a Fibra tem atuado para contribuir com a instalação e o crescimento das indústrias no DF?
Para compensar os anos de desestímulo e posicionar a indústria como protagonista da economia local, temos de tornar o ambiente de negócios mais favorável, o que depende muito do setor público. Nós trabalhamos continuamente para subsidiar o governo e os parlamentares com informações que os ajudem na tomada de decisões. No período eleitoral de 2018, entregamos a todos os candidatos um documento com nossas propostas para o desenvolvimento, levando em conta os municípios da Região Integrada de Desenvolvimento do DF e Entorno.
De acordo com a Sondagem Industrial, em maio de 2019, a intenção de investimento na indústria do DF caiu 11,9 pontos em relação a maio de 2018. A que se deve essa retração?
A economia do DF, assim como a economia nacional, vive um momento de ajuste orçamentário. Esse processo afeta a circulação de dinheiro, principalmente aqui na capital federal, onde o setor público é o principal propulsor da economia. Isso acaba desequilibrando o mercado, ou seja, afeta a demanda e a quantidade produzida, o que prejudica a indústria. Além disso, o setor tem assistido à dificuldade do governo do presidente Jair Bolsonaro com a aprovação da Reforma da Previdência, e já se sabe que provavelmente teremos mais um ano perdido do ponto de vista do crescimento do País. Esse conjunto de fatores exerce influência sobre as expectativas dos empresários, que optam pela cautela neste momento.
Na mesma pesquisa, a carga tributária foi o principal problema apontado pelos empresários. O que tem sido feito para minimizar esse problema?
O fim do Difal [diferencial de alíquota] para a indústria foi muito importante, especialmente para as micro e pequenas empresas, assim como a ampliação da possibilidade de aproveitamento do crédito de ICMS das matérias-primas utilizadas no processo produtivo e a homologação dos incentivos fiscais de ICMS para atração de empresas estruturantes para nosso parque industrial. Mas, ainda há muito a ser feito na racionalização e na simplificação das normas tributárias, em especial do ICMS. As normas do ICMS são complexas, o que pressiona os custos das empresas e cria insegurança e questionamentos jurídicos.
O Pró-DF II prorrogou o prazo para o estabelecimento de empreendimentos no DF. O que isso representa para a indústria? Como evitar que erros do passado ocorram novamente?
O Pró-DF foi criado com boas intenções, e poderia ter de fato contribuído para o desenvolvimento. Esse desvirtuamento dos objetivos criou uma série de problemas ao longo dos anos, e o resultado é a enorme quantidade de contenciosos. A extensão do prazo para instalação definitiva atendeu a um pedido feito pela Fibra e por outras entidades que representam o setor produtivo. Não resolve, mas dá às empresas participantes mais tempo para que consigam cumprir suas obrigações, especialmente a criação de empregos, muito limitada diante da crise econômica que afeta gravemente o nosso parque fabril desde 2015.
O Emprega DF prevê a instalação e ampliação de empresas no DF. Que pontos do programa podem beneficiar as indústrias, em especial as da Saída Norte?
O Emprega DF é um programa de atração de novas indústrias. Para as que já estão instaladas na capital, os efeitos serão muito pequenos. Acredito que a região norte do DF será beneficiada, sim, pois o programa prevê uma atenção especial àquelas empresas que se instalarem em áreas de relevante interesse social, como é o caso. Mesmo com tantas áreas protegidas, o lado norte do DF tem espaço para se desenvolver.