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Fórum Urbanidade realiza entrevista com Miguel Galvão, criador do Picnik em Brasília



O que é piquenique para você? Um momento de descontração, lazer, diversão em família, aquele momento que fica na nossa mentalidade para o resto da vida?


Para Miguel Galvão, o termo Piquenique é um pouco mais além e envolve conexões entre pessoas, negócios, realizações e desejos. Nesse conceito de piquenique ele foi transformado durante cinco anos no movimento de ocupação dos espaços urbanos não ocupados, ou seja de ressignificação das cidades.


Márcio Caetano: Hoje nós estamos aqui na INFINU que é uma mistura entre pessoas e empreendedores e muita experiência urbana.


Márcio Caetano: Então pessoal, nós vamos tratar aqui hoje nessa entrevista com Miguel Galvão, economista criativo, sobre ressignificação das cidades e o uso de empreendedorismo e experiências urbanas para transformar as regiões e as áreas onde a gente vive.


E aí Miguel, obrigado mais uma vez por receber a gente aqui do fórum. Para nós é muito importante entender movimentos que acontecem na prática de ressignificação das cidades. Eu queria começar com uma primeira pergunta sobre uma frase que eu ouvi em uma entrevista sua. Você dizia nessa frase que há uma má interpretação de Brasília por parte dos candangos.


Miguel Galvão: Cara, eu acho que Brasília é uma cidade muito jovem ainda, a gente fez 61 anos, ano que vem 62 anos, eu vejo muita cidade como uma ferramenta a serviço de sua população, para facilitar a vida das pessoas. Só que ela é uma ferramenta tão à frente, com tão pouco tempo de uso que a gente ainda está aprendendo a utilizar. Um grande exemplo é esse espaço aqui que a gente tá fazendo essa entrevista agora. Durante 60 anos a gente foi treinado, ensinado que isso aqui era um beco, mas hoje você vem aqui, você não vê um beco, você vê uma praça. Então a partir do momento que Brasília se permite conectar com a Inovação, eu acho que a gente vai começar a lapidar e aperfeiçoar esse organismo de uma forma muito única. Nesse planeta o que a gente precisa é se desprender desse comportamento conservador que ainda é muito presente. A gente criou uma capital meio esquizofrênica no sentido de que ela é a capital do modernismo, mas é anti modernista. Infelizmente essa é a grande realidade hoje. É uma capital que vem ficando para trás e a gente acostumou muito a estar replicando o modelo e replicando soluções que deram certo em centros e cidades urbanas que foram pensados e desenvolvidos com proposta totalmente diferente de Brasília. Hoje a gente tá com essa coisa meio insossa né? Aí você fala: Pô Miguel, mas isso é uma opinião muito pessoal. Então vamos trazer dados...Se você pega a APDAD, a última que saiu agora lá da Codeplan, nosso amigo Júnior é um ótimo presidente lá, ela dá que a população do Plano Piloto, ou seja, essa região aqui que a gente chama esse aqui meio de uma Genebra brasileira, tá com 212 mil habitantes, em 2014/2015 era 290 mil, está encolhendo. Está fazendo o movimento inverso, é surreal que se você olha para todas as outras capitais no Brasil ou então do mundo, o que você tem é o movimento de adensamento. Existem estudos que inclusive estão defendendo que quanto mais adensado, lógico, não tô falando do caso de Hong Kong né? Corta os lá de cima. Mas caso mais adensados, você tem menos problemas de impacto ambiental, você consegue dar mais solução em malha urbana, menos tempos de locomoção e tudo. A gente está indo ao contrário, então realmente eu acho que Brasília é uma cidade que está aprendendo ainda e a gente tem que dar esse crédito. São apenas 60 anos e a população está aprendendo como se usa, descobrindo o que tem aqui. E tem um aspecto que vem dessa forma modernista que trouxeram pra gente que eu estava refletindo outro dia, que essa um over-vetorização ou segmentação ela cria muito ângulo de 90° e que esse ângulo de 90 graus acaba provocando um ponto cego de às vezes eu tô aqui mas tem outro cara aqui eu eu não tô vendo ele, então eu olho eu acho que nesse ponto cego aqui não tem nada ou não existe. Então é nesse sentido que com o piquenique a gente fez esse movimento, que eu acho que foi muito importante salutar aqui para a cidade porque foi uma movimentação que foi permitindo a cidade se enxergar. Você criar uma vitrine dessa cidade por conta dessa segmentação, dessa vida altamente setorizada, ela não conseguia se ver como um todo. E aí quando a gente criou essa experiência onde a gente puxava pessoas que estavam fazendo coisas legais para se encontrarem e ter uma vivência positiva dentro de um espaço que a gente achava que não era para aquilo, porque infelizmente se você acompanha teve uma evolução da marginalização das áreas públicas. Ela começa no final dos anos 90 quando começa a cultura do shopping center começa a fortalecer muito. Porque o estado lógico, onde é que ele quer o cidadão? Na rua onde ele tem que dar segurança ele tem que ter que vigiar, policiar, limpar e tudo ou dentro de um shopping onde ele só vai lá e cobra? Ah e eu não sou anti shopping eu sou anti desequilíbrio. Só que aí a gente gerou um desequilíbrio, as pessoas começaram a ir todas para uma situação de socialização dentro do shopping e as áreas públicas começaram a ficar esquecidas e ficaram marginalizadas. Ir para o parque da cidade era coisa de povão e pô para quê que eu vou para o eixão? Eu vou para o clube.


Márcio Caetano: É nesse sentido que vocês fizeram um movimento muito interessante de ocupação dos espaços urbanos aqui em Brasília com o piquenique. Nós começamos até nosso vídeo falando sobre o PicNik e não sobre a INFINU. A gente viu que a INFINU é um resultado dessas experiências que vieram lá atrás. Vocês fizeram mais de 30 eventos na Asa Norte, Parque da Cidade e outros lugares. Primeiro: Como vocês conseguiram conectar essas pessoas, e eu acredito que as pessoas estavam sedentas por esse tipo de oportunidade. Segundo: Como vocês conseguiram convencer o poder público, o regramento de Brasília é muito rígido com relação a qualquer tipo de atividade ou alteração. Como vocês conseguiram essa façanha de colocar mil, duas mil pessoas na rua?


Miguel Galvão: Vamos começar de trás para frente. Uma das facilidades do piquenique foi que começou muito pequeno. A gente começou muito muito pequeno no momento muito importante que era quando as redes sociais estavam começando a ditar a opinião pública. Só que os tomadores de decisão e as antigas mídias não tinham percebido isso, então isso me permitiu ser um evento pequeno. Mas como estava ancorado no conteúdo muito valioso e muito verdadeiro, que não tem no mercado, então tinha uma plataforma que estava me permitindo colocar isso no mercado com custo muito menor se eu tivesse tendo que pagar. Você não tinha um jornal para fazer, então isso foi um diferencial, foi muito uma questão de um time mesmo. E aí acho que foi isso. As pessoas começaram a entender que cara a gente quem mora em Brasília, aqui no plano piloto e tudo, são pessoas com alto poder aquisitivo, são pessoas com alto nível de escolaridade, e hoje indo para a cidade satélite você vê isso também. Cada vez acompanhando mais e vendo que está mais homogêneo, as pessoas que moram aqui, elas escolhem morar, pois poderiam estar em outro lugar. E aí então se a gente escolheu tá fazendo parte de uma realidade, eu quero que essa realidade seja a melhor possível. E aí basicamente o que a gente fez foi desenvolver uma plataforma que primeiro fuja da personificação, a não é o piquenique do Miguel, tanto que né você não encontra muita coisa direcionando a minha imagem, porque é um movimento da cidade. Então foge da personificação e traz para algo mais é pulverizado onde justamente você consegue enxergar que é uma rede muito rica e essa rede ela basta. O que a gente fez com o Picnik foi conectar ela, Só que dentro de uma experiência com a população que também está aberta, aí a gente criou o Momentos Mágicos né? Em espaços que estavam esquecidos mas estavam preenchidos lá no nosso DNA. O dia que você foi com seu pai, curtindo, subindo o foguetinho do parque da cidade, um dia que você foi com a namorada ver o pôr do sol na Ermida. Cara isso faz parte do nosso DNA, só que faz parte de dentro de uma vivência que ela é muito isolada. Ela é muito distante. São momentos raros. Mas começamos a colocar: mas porque é raro? Então esse fato da gente começar a ser pequeno, a gente não era muito facilmente rastreado pelo poder público. Eu já tinha uma escola para participar de eventos, já conheço bastante da legislação então dentro da legislação eu sabia onde estavam as dificuldades, as arestas e sabia aonde era o caminho para não ter um questionamento sobre nossas permissões. Tanto o que a gente fez até hoje tanto aqui em Brasília, como Goiânia em São Paulo todos com autorização do poder público. Até porque senão eu poderia responder por sessões. Porque o piquenique vai basicamente falar: “olha vem aqui vender o seu pastel e sua camiseta que você vai pagar uma taxa de inscrição e vai voltar com 3,4x ela”. Se eu faço isso sem ter a autorização eu tava sendo inconsequente né? Então tem essa essa questão aí. E a conexão acho que se deu por isso cara, foi um momento na onda onde Facebook tava vindo com tudo nem tinha Instagram direito ainda e a gente soube usar a ferramenta.


Márcio Caetano: Miguel, tenho uma pergunta aqui sobre Brasília, sobre o projeto arquitetônico de Brasília e sobre a razão de Brasília existir. Quando você ouve a frase que Brasília foi feita para os carros, que sentimento traz essa frase? O que que você pensa?


Miguel Galvão: Cara, me dá uma coisa muito datada, né? Que a gente ficou, que a gente vai naquela antítese: Pô, mais carro hoje é símbolo de modernidade? Mas a gente quer ser a capital do modernismo a gente ainda pensa o carro em papel de protagonista? Então me soa uma coisa altamente datada e ultrapassada, então tipo existe coisa mais legal hoje do que você descer da sua casa de bicicleta e em 10 minutos poder tá no seu trabalho? Isso é saudável, é divertido e não é nada alienante. Então assim, eu vejo assim, isso vai com essa questão, fala muito de tombamento muito dos porquês que que a cidade foi desenvolvida mas assim, qual a essência disso tudo? A gente em que preservar a essência e não algumas visões que a 30, 50, 40 anos atrás faziam muito sentido, mas hoje representa justamente o oposto de modernidade e a gente tem por exemplo a questão do co-living também, porque nas 500, 700 da Asa Sul um abrir só pode ser unifamiliar. Por que que eu não posso co-living? Se você for fazer uma pesquisa, dez, vinte por cento das moradias já são co-living. Por que a gente não pode flexibilizar? Acabou que para preservar algumas margens, segurança e conforto, eu vejo muito a sociedade brasiliense se escondendo atrás de um tombamento que está deixando a cidade para trás, infelizmente essa é a minha opinião. Por mais que tenha muitas pessoas no setor privado e público buscando a diferença, integrar com a nova economia, ainda falta a gente assumir de fato entender que a gente tem que começar a reerguer alguns pilares que estão cedendo.


Márcio Caetano: Voltando um pouquinho atrás, antes de ter o Picnik, o que motivou vocês a fazer essa conexão entre pessoas, negócios e experiências urbanas? Como é que surgiu isso?


Miguel Galvão: Particularmente eu sempre fui uma pessoa que teve dificuldade de me encaixar e eu sempre interagi muito bem onde estavam pessoas diferentes. Para quem cresceu aqui, você tá na escola tem o grupo da escola, vai para a faculdade tem o grupo da faculdade, então quando a gente conseguia sair da nossa bolha a gente via uns tipos tão interessantes e figuras tão ricas, a gente ficava com a pulga atrás da orelha do por que aquilo não fazia mais parte do nosso cotidiano. Então eu parti para criar essas experiências onde as pessoas poderiam estar coexistindo, vivendo, estando junto foi muito para juntar esses diferentes. Eu acho que é uma das essências de Brasília. Um dos motivos disso aqui é falar: Brasil, venha fazer parte. Todos são bem vindos, não importa se veio da amazônia, Venezuela, Bolívia, aqui é capital de todos, recebemos bem todo mundo. A diferença tem que ser valorizada. Por meio dessa andança de evento, era o que nos estimulava, colocar as pessoas para vibrar em harmonia.


Márcio Caetano: Então a INFINU veio como resultado dessas experiências, você pensava em montar lá atrás ou surgiu a partir dessas conexões?


Miguel Galvão: É, com certeza ele é um fruto dessa jornada. O Picnik a gente começou em 2012. Outro dia eu tava refletindo muito sobre as organizações das primeiras cidades, o Picnik era um movimento muito nômade, até meio cigano, a gente sempre tava procurando uma praça para receber bem a nossa tribo e assim a gente dava um grande show onde nossa tribo podia monetizar, fazer trocas, dançar, festejar e aí terminava e a gente ia atrás de outra praça. Isso é similar com o movimento cigano que aconteceu no Nordeste nos anos 1900, geralmente você tinha a “ciganada” seguindo rotas de terra que eram os caras que vinham com circo, mágico. Meu pai era do interior da Bahia e ele colocava que esse era um dos momentos mais mágicos da infância dele. Quando ele estava ali na fazendinha da Bahia e sabia que os ciganos iam chegar com festa, produto, história, a comunidade toda se reunia em volta daquilo e depois desmontava e todos voltavam a sua vida normal. Só que chegou uma hora que a gente começou a fazer isso para 25, 30 mil pessoas. E aí eu não conseguia mais sair despercebido, aí tem um jogo do sistema que o estado vai te empurrando responsabilidade. De repente você olha lá e tem um caldeirão com 20, 25 mil pessoas onde o menino de 10, 12, 15 anos ficava bebendo lá fora com o ambulante que o estado não regulava, entrava alcoolizado no evento e a responsabilidade era minha. Aí você já começa a falar: Opa, mas isso não é justo. O estado não conseguia conter os ambulantes lá fora, eles deixavam a sujeira, eu deixava minha área limpa e eles me multavam pela sujeira externa. Então começou a ficar uma troca onde o risco começou a ser desproporcional. Por outro lado, comecei a olhar pelo meu mecanismo de financiamento que eram as leis de incentivo, fora do eixo Rio/São Paulo é muito difícil você conseguir ter patrocínio direto em um volume extensivo, porque você não consegue medir. A Adidas faz um negócio pequeno em SP, dá tantas pessoas e no outro dia já está em um jornal tal, rede tal, aí ela “ó, isso aqui paga tanto, aquilo custou tanto, então valeu a pena a gente colocar 10, 15, 20 naquela”. Em Brasília a gente não tem isso tão estruturado ainda, então as macas não colocam verba direta, por isso temos que ir pra verba incentivada, ela coloca dinheiro por que está deixando de pagar imposto em algum momento. Isso nos viabilizou trazer parceiros importantes como a claro, Ambev, Coca-cola, Brasal e tudo, só que chegou um momento que as leis de incentivo estavam sofrendo processo intencional de de crédito muito forte, as pessoas pegavam casos isolados, “ah, o cara pegou o dinheiro da lei Rouanet para pagar o casamento, deu nó em pingo d'água” e tentaram generalizar isso, então entendemos que se estamos crescendo isso não vai deixar de crescer, e por outro lado onde eu posso aumentar a minha verba eu não acho que isso é tendência de aumentar, isso vai diminuir. E aí teve um dia muito marcante, que foi no picnik, até meu sócio Ernane fazia uns videos no meio do evento e pegou um menino e perguntou o que ele tava fazendo ai, ai ele falou que estava lá porque era uma rave que vendia camiseta. Falar com refinamento, manter o bastão de geração em geração e conseguir ter um refinamento disso é muito custoso. Foi aí que eu falei, cara, não, a gente precisa ter um espaço para trabalhar essa cultura no dia a dia. Não trabalhar quantidade mas qualidade.


Márcio Caetano: Ai vocês partiram para a INFINU, quando você tem mistura de arte, cultura e empreendedorismo. Me fala um pouco sobre a infraestrutura que vocês têm aqui hoje.


Miguel Galvão: Precisava ter comida boa, eu não ia depois de 30 anos me meter a ser dono de restaurante, trouxe os bons que mexem com gastronomia. Precisava ter moda, trouxe os bons, aí precisava ter a parte de cosméticos, comidinha, aí a gente foi trazendo a galera. Só que basicamente a gente foi olhar para o mercado, tinha expositor que participava do Picnik que no dia do evento vendia 15 mil, 7 mil, aí eu perguntava onde encontrava a pessoa no dia de semana e ela falava que só vendia em eventos. Pois ter fiador, espaços grandes, contratos de um ano, espaço precisa ser reformado, se a atividade bomba o cara aumenta o aluguel. Então com uma série de forças contrárias que tornam a vitrine no plano piloto proibitiva, muito cara ainda mais pra quem está começando agora. Então eu pensei, poxa eu preciso trazer uma solução para esse público, aí você começa a olhar para a cidade e vê o setor comercial sul 40% de vacância, setor de diversões sul 25%, w3 sul 30%, aí eu pensei logo que tinha algo errado. Aí novamente volta a questão da over setorização que eu acho que é mais um problema que qualidade para Brasília. Em centros mais antigos em SP, BH, POA, o setor criativo tem papel fundamental na cidade, de dinamização de ocupação dos espaços urbanos, requalifica. Um grande exemplo é a rua augusta de SP, na década de 70 era o apogeu, onde todos queriam estar, anos 80 vira boca do lixo e marginalidade, cheio de boate e tudo isso até o final dos anos 90, quando começa o pessoal a ter uma loja de roupas legal, uma casa de show, aí o pessoal vai tatuar, montar o quibe, etc. Hoje é um dos metros quadrados mais disputados de SP e o próprio setor criativo tem que procurar outras áreas, isso não acontece em Brasília. Aqui a gente não permitiu essa fluidez que ajudasse a balancear a ocupação e por consequência o desenvolvimento da cidade. Então a gente olhou primeiro para a W3, porque tem menos resistência da população, principalmente das mulheres. Se eu chamar uma mulher para uma reunião 17h no setor comercial sul, no setor bancário ou no setor de diversões, ela vai ter que pensar “se terminar 18h30, onde eu parei meu carro, como eu vou sair…”, aqui na W3 não, ela já tem uma memória afetiva muito ativa dentro do brasiliense. Ela aproxima mais de uma estética que lembra o Picnik, porque os outros são muito concreto, asfalto, aqui já lembra uma coisa mais warm, mais aconchegante. E aí miramos na W3, a gente quis trazer para cá algo que fosse mais voltado para criatividade e inovação, onde as pessoas que gostam desse universo aqui em Brasília, se sintam bem, atendidas, seja público, produtor de conteúdo, inquilino e possa consumir criatividade e inovação, seja até mesmo tomando um suco. Esse é um conceito. Hoje somos 70 CNPJs aqui dentro, desde empresas maiores estruturadas como as lojas de gastronomia que chegam a ter 5 a 6 funcionários e fatura na casa dos 80 mil mês, até o cara que me aluga porque ele quer vender o queijo dele e não consegue ter escala para estar no Big Box, no supermercado, mas ele produz um produto legal, faz um trabalho legal de marca e quer atender um certo mercado. Ele não precisa ter a lojinha dele, vende aqui com a gente. Tem uma loja colaborativa lá dentro, um estúdio de tatuagem com quatro tatuadores mulheres, os escritórios e tudo. São cerca de 70 CNPJs que estão aqui coexistindo no espaço de 420 metros quadrados. Antes o que era uma mecânica e lava-jato de 250 metros quadrados e três empregos. Isso é uma solução genuína e autenticamente candanga. A gente já teve até algumas visitas de alguns empresários do setor de shopping de São Paulo, algumas pessoas de fora falando que com essa integração, essa engenharia financeira, nunca tiveram contato antes, querendo levar para lá. Mas eu sempre falo que primeiro tenho que me consolidar em Brasília. Aqui foi desenvolvido em uma metodologia que a gente tá chamando de inteligência urbanística de projeto que eu entendo que um negócio que nasce sem ter isso dentro do DNA hoje, talvez daqui a 2, 4 anos ele vai ter que se reinventar, que é o compartilhado, colaborativo, cooperativo e socioambientalmente responsável e automatizado/autossuficiente.


Márcio Caetano: Minha próxima pergunta era sobre o que você pensa que são espaços criativos para ressignificar as cidades? Como os espaços podem ressignificar as cidades? Miguel Galvão: O que a gente tá fazendo aqui é uma experiência, uma vivência muito avançada de place branding, espaços esses começam a fazer sentido quando consegue se conectar com uma comunidade que é ávida por aquele eixo em que ele está orbitando. Tipo assim, um espaço desse faria sentido por exemplo tendo um eixo LGBT, vegano, tech, que são pessoas que tem apreço profissional ou pessoal em N estímulos e vão querer estar perto desse organismo para interagir com ele. É muito importante esse vínculo com a comunidade, esse espaço vazio é só uma boa ideia, vazio ele não existe. Eu acho que agora tem muito essa dinâmica de como é e sempre sendo muito responsivo, sabe? A comunidade a todo momento te joga informações, estímulo, você tá sempre analisando e pensando: eu me movo agora? Me adapto? que é a questão darvin da natureza, vence quem melhor se adapta.


Márcio Caetano: Por ser colaborativo e coletivo, provavelmente o custo é menor. Para ser criativo tem que ser econômico ou a economia criativa é que promove o desenvolvimento econômico? Miguel Galvão: O que é criativo tem que ser autossuficiente. Ele tem que se bancar e tem que existir por si só. Se não no curto prazo, pelo menos no médio e longo prazo, senão não se sustenta. Ninguém vive só de paixão ou de promessa de paixão durante muito tempo. Precisa ter prova, precisa ter entrega. Todo mundo gosta de viajar, todo mundo gosta de comer bem, todo mundo gosta de ter contato com pessoas diferentes. Então, a gente está querendo muito e mostramos aqui dentro, dentro dessa experiência de desromantizar e falar isso é uma função social importante, e tem que ser remunerada para isso. Quem consegue processar bem o caos são os bons artistas e agora a gente vai precisar deles como nunca. Porque estamos vindo de um caos gigantesco. A gente tem que sair dessa posição romantizada, utópica e entender que as pessoas precisam criar condições para viverem disso, pagar seu aluguel, viajar, poder melhorar, fazer curso, estudar, ter margem. A questão do estúdio de tatuagem compartilhado vem nesse intuito. Às vezes o cara desenha muito, aí quem vai te atender é o mercado de publicidade que pode até te pagar bem mas vai sugar sua vida. Para um cara criativo isso é um dilema muito grande. E o outro mercado é o cara ser freela e aí um amigo te pede um cartão, o cara te cobra R$100, 200 reais e o amigo acha caro. Aí um outro colega paga R$1.000 em uma tatuagem, então vai tatuar esses caras. Você continua desenhando mas a sociedade entende como outro valor. Diversificar, compor um mix dentro do skill que o cara pode oferecer, isso vai garantir uma renda média maior para ele ter a área onde ele pode ser mais ousado e monetizar menos ou ir para a área onde ele faz 3, 4 tatuagens, paga o mês dele. Esse equilíbrio é muito tátil de acontecer quando a gente tem uma comunidade.


Márcio Caetano: Quais são os próximos passos? Crescer aqui? Montar outros pólos?


Miguel Galvão: Logo no início a gente foi muito procurado para empreender em outras situações, o modelo de franquia tradicional não me agrada, acho que despersonaliza. Eu vou dar uma exclusiva aqui para vocês que estamos propondo a evolução do Picnik, que é o Picnik.urb, onde a gente começa a pensar um produto 360 graus para a cidade. Por exemplo, eu quero ajudar a comunidade de organismos como esse, seja para usufruto comercial, um usufruto residencial, que agora você tem a questão dos co-livings, produtos de hotelaria de melhor idade, tudo que em Brasília ainda é muito feijão com arroz, você não vê isso aqui como realidade. Então a gente montou essa inteligência onde usando essa metodologia de projeto que passa pelo compartilhado, colaborativo, cooperativo e socioambientalmente responsável e automatizado, a gente pega as oportunidades e primeiro entende o que pode fazer legalmente e dar dos meus recursos o que é melhor uma vez que eu tenho esse horizonte? Uma vez que eu tenho o que eu posso fazer e o que é melhor para fazer, aí eu entro com forma, arquiteto, conceito aí eu entro facilmente com o storytelling e o branding, com esses 4 eu tenho um quinto que é a venda. Um processo natural, então a ideia é a gente tá entrando, estamos desenvolvendo um projeto lá em Samambaia, junto com a construtora MR Pinho, do Marcelo que é um cara que tá fazendo um trabalho disruptivo lá em Samambaia, uma pessoa que eu respeito muito. Junto com a alba grilo que me ajudou no processo de transformar minha área lá na Urbitá de rural para urbana, ela que me dá toda essa retaguarda fundiária, aí estamos estudando uma oportunidade para o Casa Park lá no Park Sul. Tenho um almoço com o pessoal de Brumadinho para pensarmos um organismo como esse para a fase de recuperação da cidade, tem um programa da Vale sendo viabilizado lá nesse sentido. Então o horizonte é esse, queremos colocar essa semente que está nos trazendo fartura, bons parceiros, desafios e amigos para que mais pessoas possam se beneficiar disso, e aí a gente conseguir elevar um pouco a qualidade desse jogo.


Márcio Caetano: Poxa, para mim foi uma experiência muito boa porque a gente vê planejamento, execução e resultado. Obrigado.


Miguel Galvão: Valeu pela oportunidade. É muito importante esse movimento do Fórum, acho que é uma ação disruptiva, no sentido de que a gente precisa entregar a informação, fazer chegar nas pessoas que estão buscando fazer coisas diferentes e de qualidade. Não vamos viver pela mediocridade, vamos puxar, vai ter muita gente procurando casa, emprego, escola e sonhos. A gente precisa atender essa galera.

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