De um limão à limonada

Impulsionado pelas mudanças no mundo do trabalho e facilidades na legislação para a constituição de novos negócios, o empreendedorismo no Distrito Federal tem se mostrado uma alternativa importante para quem deseja gerar renda em momentos de crise.
O cenário econômico brasileiro entrou em 2019 com as mesmas incertezas causadas pela crise iniciada em 2014, com uma economia em recessão, baixos índices de contratação no mercado formal, fortes restrições orçamentárias e altos índices de desemprego – chegando ao número de 13,1 milhões de desempregados até fevereiro deste ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o cenário de geração de empregos na capital federal, em 2019, também não é dos melhores. Atualmente, mais de 300 mil pessoas estão sem trabalho. Em números percentuais, os trabalhadores inativos representam 18,3% do efetivo total do DF. Em Sobradinho, a estimativa cai com relação à média distrital, com 15,3%. Em contrapartida, Fercal, Região Administrativa ao lado de Sobradinho II, apresenta o maior índice, beirando a casa dos 25%.
Com a baixa oferta de vagas no mercado formal, além do corte de concursos públicos, anunciado recentemente pelo governo federal, o cidadão comum não enxerga outra alternativa senão se aventurar no mundo do empreendedorismo. De acordo com a Serasa Experian, o número de pessoas que abriram empresas individuais, também conhecidas como MEI’s (Microempreendedores Individuais), foi de 216 mil em 2018, na região Centro-oeste. Em comparação aos primeiros meses do ano passado, 2019 já tem um crescimento 14% ao mês na abertura desse tipo de empresa.
De acordo com o consultor Marcelo Bastos, coach de pequenas e médias empresas, a mudança do mercado não está somente nos números, mas sim nas atitudes que o novo empreendedor decide tomar. “Trabalhar como autônomo registrado como empresa tem seus prós e contras. Você pode fazer sua rotina e oferecer um serviço especializado para uma gama variada de clientes sem o compromisso de ficar em apenas uma empresa. Com essa nova ferramenta isso é possível”, pontua.
Marcelo chama a atenção para o posicionamento que o novo empreendedor tem que tomar, estando sempre atento à demanda do mercado e ao advento dos serviços tecnológicos. “Não basta se tornar empresa e sair oferecendo serviço por aí, isso é ultrapassado. Se a sua visão ainda estiver atrelada a uma relação de trabalhador e patrão, você estará perpetuando a mesma relação de trabalho antiga prevista na CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas)”, afirma o coach.
O mundo atual, destaca Marcelo, “exige pensar fora da caixa, entender às demandas sensíveis que surgem de problemas do dia a dia para assim propor soluções eficientes e inovadoras, levando o empreendedor ao sucesso”.
OS CUSTOS DE SONHAR EM EMPREENDER
Nem tudo são Flores. O Sonho de se tornar dono do seu próprio negócio exige sacrifícios. Apesar de ser um nicho de mercado promissor, atuar como empresa traz consigo também alguns sacrifícios como a carga tributária. Para pequenos empreendedores, os impactos dos impostos no desempenho da empresa não chegam a causar insatisfações, mas, à medida em que o negócio se desenvolve, a carga tributária aumenta de acordo com o faturamento.
O Caso do MEI, o enquadramento é feito pelo Sistema Simples Nacional. Por isso, fica isento dos tributos federais como Imposto de Renda de Pessoa Jurídica, PIS, Cofins, IPI e CSLL. Porém, deve pagar o valor fixo mensal de R$ 50, se for comércio ou indústria, de R$ 54, para prestação de serviço, e de R$ 55, quando for comércio e serviços.
Esses valores são destinados à Previdência Social e ao ICMS ou ao ISS. Vale lembrar, aqui, que essas quantias são atualizadas anualmente de acordo com o salário mínimo. O Pagamento é feito através do Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS), disponível no Site da Receita Federal.
Quando o assunto é pequenas e médias empresas, a tabela adotada pelo Simples Nacional tem alíquotas de imposto baseadas no rendimento anual declarado pela empresa. Para os pequenos, com rendimentos até R$ 180 mil ao ano, o imposto é calculado em 4% sobre o faturamento anual, enquanto as empresas de médio porte, com rendimento de até 4,8 milhões, têm imposto calculado em 19% (veja tabela).
O pagamento é mensal e o cálculo é feito a partir de uma estimativa entre o rendimento do mês e a projeção do ano. Por exemplo: se em janeiro, uma empresa teve faturamento de R$ 15 mil reais, a alíquota será de 4%, pois na projeção anual ela alcançaria os R$ 180 mil. Se no mês seguinte o rendimento da empresa foi de R$ 30 mil, o valor do imposto sobe para 7,3%, pois a projeção, somando a média do rendimento dos dois meses, é de R$ 270 mil ao ano, ou seja: R$ 22.500 ao mês.
SALA DO EMPREENDEDOR

Em Sobradinho e Sobradinho II, o Governo do Distrito Federal tem incentivado o empreendedorismo local, com a criação da Sala do Empreendedor. A iniciativa é uma parceria entre Sebrae e GDF, com o objetivo de auxiliar a população da região que pretende ingressar no mercado como empresa.
Atualmente, as Salas funcionam na Administração regional de Sobradinho e na Feira Permanente de Sobradinho II. O serviço já está disponível para os micros e pequenos empreendedores da região. As Salas contam ainda com o apoio de um Agente de Desenvolvimento Territorial, especializado em prestar serviços de atendimento para os interessados da região.
O administrador Eufrásio Oliveira afirmou esperar uma procura grande por parte dos empresários da região. “Esperamos que esta parceria com o Sebrae seja algo promissor para nossa região. Hoje o principal problema enfrentado pelos empreendedores locais é a falta de informação. Com este novo serviço, eles terão a ajuda de um profissional especializado que os auxiliará e ter sucesso no seu negócio”, explica.
Administrador de Sobradinho II, Alexandre Yanez, explicou que “o objetivo com a Sala do Empreendedor é facilitar a abertura de novas empresas e oferecer serviços ao microempreendedor individual. Além disso, será o local para os feirantes, comerciantes e demais empreendedores buscarem soluções de crédito e cursos de capacitação em diversas áreas”, destacou.
Para o Superintendente do Sebrae, Valdir Oliveira, a Sala do Empreendedor facilitará a comunicação com os pequenos empresários. De acordo com Oliveira, “Muitas oportunidades hoje não são aproveitadas por este tipo de empreendedor por falta de conhecimento. Nós iremos oferecer serviços de capacitação, orientação, consultoria, sendo boa parte de forma gratuita”, aponta.
A Sala do Empreendedor faz parte de uma série de ações empreendidas pelo governo do DF nos 100 primeiros dias de gestão. Tem respaldo na Lei Complementar Geral da Micro e Pequena Empresa (Lei nº 123/2006), sendo uma das frentes do GDF para girar a economia e aumentar a oferta de empregos.
JOVENS DE SUCESSO

De acordo com pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que buscou traçar o perfil do jovem empreendedor brasileiro, um em cada três empresários (32%) cultivavam a ideia de ser empreendedor antes de completar 18 anos.
O dono da loja virtual Bobo Guará, Daniel Ferreira, 26 anos, desde criança se interessa pela venda de produtos autorais. “Eu sempre quis desenhar meus próprios produtos, então, em 2015, decidi sair da UnB (Universidade de Brasília) e aprender por conta própria como ilustrar e criar produtos gráficos. Daí surgiu a Bobo Guará”, explica.
Ser dono do próprio negócio possibilitou que Daniel escolhesse o local onde daria início ao empreendimento e se dedicasse a temas de sua preferência. “A criação de produtos do segmento nerd e sobre Brasília, universo em que estou imerso e sou apaixonado, facilitou o meu processo de aprendizagem. Para mim, a criação do site foi o caminho mais viável e barato para começar.”
Além dos sites, os jovens empreendedores têm apostado nas redes sociais para expor os produtos e interagir com os consumidores. A estudante de gastronomia Izabela Canuto, 20, dona da loja Doces da Iza, criou um perfil no Instagram para comercializar e divulgar os brigadeiros e ovos de Páscoa que produz. “Na escola, eu vendia cerca de 150 brigadeiros no intervalo e lucrava bem, então, no início da universidade, utilizei o aplicativo para expandir os locais de atendimento”, afirma.
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