Água sob risco na Saída Norte do DF

Importantes áreas ambientais para a manutenção e recarga dos mananciais hídricos, a Reserva Biológica da Contagem (Rebio) e o mosaico de florestas da região de Sobradinho estão em risco de degradação pela falta de consciência ecológica da população, dos líderes comunitários e do poder público. Isso porque a preservação dessas reservas é essencial para a garantia da qualidade e do acesso à água pela população.
O agravamento da crise hídrica em 2017 fez com que a Companhia de Água e Esgoto de Brasília (Caesb) aumentasse a quantidade de pontos de captação em todo o DF. Na região de Sobradinho, a empresa possui uma Estação de Tratamento de Água, a ETA Sobradinho. A quantidade de água disponibilizada pela Estação, estimada em 160 litros por segundo, é considerada baixa em comparação a outras unidades do Distrito Federal, porém, tem papel importante no abastecimento da região.
A água captada pela Caesb na localidade tem relação direta com o estado de conservação das reservas e Áreas de Preservação Ambiental próximas. É o caso da Rebio da Contagem, da Área de Proteção Ambiental do Planalto Central e do parque Canela de Ema.
O Córrego Paranoazinho, local onde é feita a captação da ETA Sobradinho, se encontra dentro da Rebio. Nesse caso, a Reserva tem participação direta com a vazão apresentada pelo rio. Ela se comporta como um colchão, absorvendo água da chuva e mantendo o nível do córrego estável, sem secas ou variações de nível muito grandes.
A vegetação local suga a água permitindo que ela seja armazenada no lençol freático. Em uma área devastada, a água causaria erosões e o acúmulo de terra no leito do rio, o assoreamento. Em situações como essa, é comum o desaparecimento desses mananciais, seja pela seca ou pelo próprio assoreamento.
Essas regiões que protegem a vegetação nativa do cerrado servem também como zonas de recarga hídrica para todos os córregos e ribeirões que são encontrados na região. É o caso também do Ribeirão Sobradinho e da lagoa Canela de Ema.

CONDOMÍNIOS INOVAM NA GESTÃO DA ÁGUA
Localizada na região do Grande Colorado, a Reserva Biológica da Contagem abrange uma área de 3.426,15 hectares. Foi criada em 2000 com objetivo de assegurar a preservação do equilíbrio natural da diversidade biológica e dos processos naturais. Na Reserva está localizado o ponto de captação da ETA Sobradinho, que contribui no abastecimento de Sobradinho I e II.
A população dos condomínios do Grande Colorado vive sob uma relação constante com a reserva.
Por se localizarem próximos ao local, síndicos têm de estar sempre atentos aos impactos que podem ser causados com a ocupação da região.

O Caso do condomínio Vivendas Lago Azul vem chamando atenção. De acordo com a síndica e presidente da União dos Condomínios Horizontais do Distrito Federal, Júnia Bittencourt, o Lago Azul desenvolveu um projeto que, ao mesmo tempo, evita o descarte de águas pluviais na Reserva e contribui para o abastecimento do aquífero local. “O projeto consiste na construção de caixas de retenção pluviais, que levarão as águas da chuva de volta ao solo. Dessa maneira, evitamos jogar água na Rebio, além de abastecermos o lençol freático”, comenta a síndica.
Júnia também pontua que o projeto está sendo analisado pela ADASA e Ibram. O Objetivo é que com o sucesso do projeto, ele possa ser aplicado em outras localidades. Júnia Afirmou que aguarda apenas a autorização do poder público para dar início à execução das obras. “Assim que formos autorizados, começaremos imediatamente, independente dos prazos”, aponta a síndica.
Por outro lado, a situação da Avenida São Francisco preocupa. A ausência da rede de drenagem dos condomínios acaba fazendo da avenida uma “cachoeira” em dias chuvosos.
A água da chuva escorre até o vale localizado abaixo do balão da DF-150, causando erosão no terreno local. Em acordo firmado com o governo, a Urbanizadora Paranoazinho, proprietária da área, realizará a obra assim que regularizar 50% dos lotes da região. Além da redução dos impactos ambientais, a obra fará com que transtornos como inundações e enxurradas deixem de fazer parte do cotidiano local.
CANELA DE EMA: REGIÃO SOB RISCO AMBIENTAL
O local, que já foi parque, localiza-se em Sobradinho II em uma área de 23,77 hectares e abriga vegetação nativa do cerrado, além de uma nascente que abastece o Córrego Paranoazinho.
A outorga de parque, concedida nos anos 90 por meio de Decreto Legislativo, foi revogada em 2015 pela constatação de vício de inciativa, que seria uma tarefa atribuída exclusivamente ao poder Executivo.
Após a revogação, de acordo com o Instituto Brasília Ambiental (IBram), foi contratado, em 2017, juntamente com a Agência reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (ADASA), o “estudo de Diagnóstico Ambiental do Ribeirão Sobradinho, com fins de subsidiar a recriação do parque”. No entanto, de acordo com o órgão, “houveram empecilhos na execução do contrato, que acabou sendo encerrado sem a apresentação dos produtos”. Mesmo com a falta de regulamentação, o local encontra-se dentro da Área de Proteção Ambiental do Planalto Central, e é protegida pelo Código Florestal. Apesar da proteção estabelecida por lei, a Administração Regional de Sobradinho II não hesitou em abrir uma passagem para carros na área, sem estudos de impacto ambiental nem autorização dos órgãos responsáveis.
A passagem foi construída sobre um dos córregos da região, ao lado da lagoa Canela de Ema. A obra causou uma série de danos ao meio ambiente local, desde o aterramento de parte do córrego, até o aumento de volume da lagoa, prejudicando a vegetação que havia em volta.